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O primeiro grande fato completamente relevante a essa crítica é que esta não é uma crítica de um filme-de-Almodóvar. Longe, muito longe de querer discutir o diretor, seu nome e os marcos que fizeram sua carreira, devo começar por uma revelação que para muitos pode ser chocante: este foi, infelizmente, o primeiro filme que vi de Almodóvar.
Dito isso, sinto menos pressão em dizer que eu não gostei do filme. Ele, como obra cinematográfica.
“Abraços Partidos” é uma bela combinação de drama e romantismo, verdade. Possui um potencial magnífico para uma bela história, cuja mensagem final é a beleza de um verdadeiro amor que nasce, acontece, em um terrível contexto. Lindo, denso e dramático. ...Ou não.
Lluís Homar me parece um ator sincero. Pouco sei sobre ele e dentro do que tentei pesquisar não descobri muito. Sei que é um ator premiado e que já havia trabalhado com Almodóvar. No entanto, sobre Mateo Blanco, seu personagem, eu não posso dizer o mesmo. Mateo nos é apresentado logo de cara como Harry Caine, um cego sedutor. Conta que Mateo se foi com um antigo amor, conta sobre esse amor, seu desenrolar e a tragédia que o rodeava quando nasceu.
A trama com certeza não é nova. Moça bonita, pobre e necessitada que se casa com um homem muito mais velho e, é claro, rico. Homem sedutor, diretor de cinema, encontra a moça-esposa-do-homem-rico e, enfim, não é difícil imaginar o resto. Apesar de fórmula pronta, sabemos, eu e todas as mulheres, que histórias trágicas de amor nunca são cansativas. Quando bem contadas.
O problema de Mateo é a sua canastrice. E, me desculpem, eu juro que não tenho outra palavra para o que esse personagem me passou durante o filme in-tei-ro. Porque se todos os personagens à sua volta querem me convencer de que Mateo Blanco é um cara sedutor, dele mesmo eu só consigo enxergar um velho tarado e pretensioso. E se em algum momento ele realmente amou Lena (Penélope Cruz), parecia apenas um velho tarado fazendo sexo com a mulher do outro. Impossível alimentar o desejo de torcer por um casal em que uma das partes simplesmente não me convence de seu “amor verdadeiro”.
Além disso, a estereotipia dos personagens é tão óbvia que dificulta na identificação do público com a história. É como um conjunto de tipos para um conto simplificado: um velho nojento e rico, um diretor de cinema bem sucedido e sedutor, uma mulher pobre e coitada, mas lindíssima. Como podemos crer num amor único e verdadeiro, quando as opções da moça são essas duas figuras masculinas? Mais fofo seria se ela trocasse o diretor pelo velho, não? Isso sim seria amor verdadeiro.
Mas, sejamos justos. Como algumas críticas que li disseram, felizmente temos Penélope Cruz no filme. Linda, carismática, talvez um pouco apagada devido ao papel, mas ainda assim Penélope Cruz. E não posso negar, de maneira nenhuma, que Almodóvar tem seu charme em nos dizer algumas coisas. Mesmo nesta produção, é perceptível sua maturidade em lidar com essa arte. E me pareceu boa, apesar de mal aproveitada.
Agora, se você, fã de Almodóvar, ou melhor, fã especificamente deste filme, vier me dizer que na verdade eu não entendi nada do que ele quis me passar, você está certo. Até agora eu não tenho idéia de qual é a desse filme. Mas se alguém puder fazer o favor de me esclarecer, eu ficarei feliz em ouvir e, quem sabe, eu até mude de opinião.