http://www.sonyclassics.com/onlyloversleftalive/
Há várias razões para ver em vampiros um tipo de criatura majestosa. Eles são poderosos e andam por aí com esse ar de mistério. Mas, é claro, não é só isso que compõe o charme irresistível. Tem também o perigo potencial; a fome por sangue que os faz seres obscuros, selvagens e muitas vezes fatais. Junte tudo isso à força, à rapidez e à eterna juventude e está pronto: uma bela e apelativa produção comercial. Sexo, beleza e sangue. É legal, é divertido e é o que os fãs gostam – eu, inclusive. Só que “Amantes Eternos” não tem nada disso.
Não é que Jim Jarmusch quis revolucionar totalmente a figura dessa criatura mística. Aliás, é exatamente o contrário. O filme traz poucas novidades para aqueles que já conhecem bem esse mundo alternativo. A direção de arte, junto com um trabalho competente de fotografia, criou uma ambientação bonita, mas não é nada que surpreenda. O objetivo do diretor foi desconstruir. E devo dizer que o resultado ficou bem interessante.
Verdade que o ritmo é lento e beira o tédio, o qual permeia a vida do casal Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton). A imortalidade, representada sem a beleza e a juventude padrão de Hollywood, enche os diálogos com referências históricas, porém, é o seu peso que conduz a trama. Os dois já viram e já aprenderam muito e ainda têm muito tempo pela frente. Adam é melancólico e se sente cansado. Eve continua apreciando calmamente os momentos que vive.
O longa tem vários pontos positivos, em especial o casal improvável formado por Hiddleston e Swinton. Mas o seu maior valor, ao meu ver, foi mostrar que cenas de sexo e nudez, sangue e violência e um alto nível de agressividade não são fundamentais para um bom filme de vampiro. Existe um outro lado que também rende boas histórias. Não, também não é o romance e nem as bobagens adolescentes. É o elemento humano, que os deixa mais complexos.
Adam e Eve me cativaram na tela. Até a aparição de Eva (Mia Wasikowska), a irritante irmã de Eve, é interessante. Os fãs dos seres imortais ganham muito conhecendo esses personagens, suas relações e intimidades. Por isso, fica a indicação. Só não espere um drama cheio de ação, com altos e baixos, e apelos baratos.
Atenção: Para ler os trechos com spoiler é necessário clicar no título do post, acessando assim a página específica dele. Dessa forma, ao clicar no botão (que fica no meio do texto), a parte oculta do texto será revelada.
domingo, 22 de junho de 2014
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Malévola (Maleficent)
Existe um vício em contos infantis que, felizmente, está sendo aos poucos consertado: o maniqueísmo. Em 1959, a Disney nos apresentou a história da doce Princesa Aurora e como termina por cair na maldição de uma terrível bruxa chamada Malévola. Simples assim, a narrativa vem de muito antes do estúdio decidir animá-la e possui diversas versões. Este ano, a Disney retornou à mesma história, desta vez com uma visão nova: a de que não há apenas vilões e heróis e, algumas vezes, é possível ser os dois na mesma linha de acontecimentos.
Malévola não é apenas má. Verdade, ela lançou uma maldição em uma inofensiva bebê que destinava-a a morrer antes do pôr-do-sol do dia em que completaria seus 16 anos (na animação, a fada Primavera a salva, substituindo a morte por um sono profundo capaz de ser quebrado pelo beijo de amor). A pergunta que não foi feita em 59 e que agora tem um filme inteiro para responde-la é: por quê? Além da essência maldosa e da aparente amargura, a bruxa não apresenta grandes razões para fazer o que faz. Aí entra a personagem desenvolvida pelo diretor Robert Stromberg e pela belíssima Angelina Jolie.
Com algumas adaptações, o longa entrega tudo o que os fãs da história e de contos infantis esperam: aventura, drama, uma pitadinha de romance e uma ótima dose de fantasia. Não é apenas todo o visual da *fada* Malévola, mas também o rico mundo em que vive: uma floresta mágica cheia de criaturas interessantes. O tom é infantil, bem adequado ao público, sem deixar de divertir os adultos que estejam como acompanhantes ou que decidam assistir ao filme.
Em favor da poderosa fada que nasce e vive no coração da floresta e que crescerá para ser uma protetora amarga e ameaçadora, as três fadinhas que criam Aurora acabam sendo retratadas de forma mais superficial. Toda a ajuda e o bem que fazem na animação de 59 acaba ficando para Malévola que, corretamente atribuída como a Fada Madrinha, se apega à linda garotinha. A mudança não é ruim, porém, faz o público desgostar do trio, que é tão amado na primeira versão e causa quase raiva na atual.
A supressão do papel fundamental do casamento prometido é um bom aspecto, pois substitui a importância de um príncipe encantado pela validação do amor fraternal. A mensagem é quase a mesma de “Frozen”, mas não deixa de ser relevante. E por que não pegar esse conto tão icônico e transformá-lo em uma lição de amor diferente?
Por fim, temos a aparição de um novo vilão, ou pelo menos foi como o classifiquei. Stefan é a representação do homem, com todos os seus defeitos, em contraposição à natureza inocente e pura de Malévola, criada em meio à natureza e longe dos sentimentos de inveja e ambição. O garoto é ambíguo, pois nem tudo o que faz é de natureza meramente maldosa, mas ele é a representação de tudo de ruim que há num ser humano. Nesse sentido, talvez a intenção do filme em retratar o bem e o mal sem pintar os personagens de preto e branco pode ter sido prejudicada.
A supressão do papel fundamental do casamento prometido é um bom aspecto, pois substitui a importância de um príncipe encantado pela validação do amor fraternal. A mensagem é quase a mesma de “Frozen”, mas não deixa de ser relevante. E por que não pegar esse conto tão icônico e transformá-lo em uma lição de amor diferente?
Por fim, temos a aparição de um novo vilão, ou pelo menos foi como o classifiquei. Stefan é a representação do homem, com todos os seus defeitos, em contraposição à natureza inocente e pura de Malévola, criada em meio à natureza e longe dos sentimentos de inveja e ambição. O garoto é ambíguo, pois nem tudo o que faz é de natureza meramente maldosa, mas ele é a representação de tudo de ruim que há num ser humano. Nesse sentido, talvez a intenção do filme em retratar o bem e o mal sem pintar os personagens de preto e branco pode ter sido prejudicada.
Vale pela trama, pelos vistosos efeitos especiais e, para os mais velhos, pela nostalgia. A performance de Jolie é competente e sua incorporação da personagem não decepciona. Mesmo com alguns ajustes, a história respeita a versão original, que conquistou tantos fãs. Por tudo isso, a Disney está de parabéns pelo longa. É uma ótima aposta para quem tem filhos ou não!
sábado, 14 de junho de 2014
Ninfomaníaca – Vol. I e II (Nymph()maniac – Vol. I e II)
http://www.nymphomaniacthemovie.com/
Antes de perturbada, louca, estranha ou mesmo ninfomaníaca, Joe (Charlotte Gainsbourg) é uma desajustada. E se para muitos de nós é normal às vezes duvidar de nosso lugar na sociedade, para ela é um dilema que surge a cada passo que dá. Por causa disso, ela faz escolhas duvidosas, machuca alguns ao seu redor e termina achando que não é uma boa pessoa. Seligman (Stellan Skarsgård) é o homem que a acolhe em um momento particularmente difícil e a ajuda a descobrir se é de fato uma mulher má.
Esqueça tesão extremo, desejos incontroláveis e violação do corpo. A história de Joe tem, sim, relação direta com tudo isso, mas sua essência é outra. Quem esperou um pornô, se decepcionou. Quem esperou tudo de mais chocante e explícito por causa do nome Lars von Trier, também. O que os dois volumes contam é a trajetória de uma desajustada que aprendeu a lidar com o seu vazio por meio do sexo, com uma crítica à hipocrisia da sociedade. Nem por isso deixam de ser impactantes.
Com alguns eventos peculiares e ritmo ditado pelo estilo próprio do diretor, a trama conta a vida e as escolhas de uma mulher que por muitas vezes pode nos chocar, inspirar pena ou nos deixar com raiva. Para alguns, talvez cause admiração. Joe é uma boa personagem, com personalidade e problemas particulares, e bem interpretada por Stacy Martin e Gainsbourg. O elenco no geral se encaixa muito bem na linha de von Trier.
No fim, não tem nada a ver com a promessa (nunca feita) de discutir a ninfomania em si. O vício é a desculpa para um tema polêmico e um título um tanto comercial. O que é visto na tela não traz grandes novidades além da abordagem crua: uma história forte sobre a condição humana, leis sociais e a solidão que ambos podem nos impor.
Antes de perturbada, louca, estranha ou mesmo ninfomaníaca, Joe (Charlotte Gainsbourg) é uma desajustada. E se para muitos de nós é normal às vezes duvidar de nosso lugar na sociedade, para ela é um dilema que surge a cada passo que dá. Por causa disso, ela faz escolhas duvidosas, machuca alguns ao seu redor e termina achando que não é uma boa pessoa. Seligman (Stellan Skarsgård) é o homem que a acolhe em um momento particularmente difícil e a ajuda a descobrir se é de fato uma mulher má.
Esqueça tesão extremo, desejos incontroláveis e violação do corpo. A história de Joe tem, sim, relação direta com tudo isso, mas sua essência é outra. Quem esperou um pornô, se decepcionou. Quem esperou tudo de mais chocante e explícito por causa do nome Lars von Trier, também. O que os dois volumes contam é a trajetória de uma desajustada que aprendeu a lidar com o seu vazio por meio do sexo, com uma crítica à hipocrisia da sociedade. Nem por isso deixam de ser impactantes.
Quando você opta pelo sexo em vez do trabalho, da família e, em especial, do seu próprio filho, eles vão lhe dizer que há algo de errado com você. Joe faz essa escolha de forma muito mais consciente do que se espera e sofre as consequências: é cuspida de sua vida “comum”, como mãe de família e mulher trabalhadora. “Eu sou uma ninfomaníaca e eu amo ser assim.” Sua alternativa é viver à margem, porque esse é o único lugar que sobrou.
O veredito de Seligman, ao final, é que Joe é só um ser humano lutando por sua felicidade, seus direitos, por aquele “mais” que não conseguia encontrar. Não seria julgada pior que uma pessoa com moral flexível, se fosse um homem. Estaria perdoada, não por ela mesmo ou por Deus, mas pela sociedade, que permitiria sua existência errante.
No entanto, quando ela toma a decisão de mudar ao final de sua história, o mundo mais uma vez lhe mostra que não será tão fácil quanto parece. Ela puxa, enfim, o gatilho, indo além de qualquer limite aceitável. Fica a pergunta: podemos assim considerá-la uma pessoa má? Ou, no fundo, é só alguém tentando sobreviver?
O veredito de Seligman, ao final, é que Joe é só um ser humano lutando por sua felicidade, seus direitos, por aquele “mais” que não conseguia encontrar. Não seria julgada pior que uma pessoa com moral flexível, se fosse um homem. Estaria perdoada, não por ela mesmo ou por Deus, mas pela sociedade, que permitiria sua existência errante.
No entanto, quando ela toma a decisão de mudar ao final de sua história, o mundo mais uma vez lhe mostra que não será tão fácil quanto parece. Ela puxa, enfim, o gatilho, indo além de qualquer limite aceitável. Fica a pergunta: podemos assim considerá-la uma pessoa má? Ou, no fundo, é só alguém tentando sobreviver?
Com alguns eventos peculiares e ritmo ditado pelo estilo próprio do diretor, a trama conta a vida e as escolhas de uma mulher que por muitas vezes pode nos chocar, inspirar pena ou nos deixar com raiva. Para alguns, talvez cause admiração. Joe é uma boa personagem, com personalidade e problemas particulares, e bem interpretada por Stacy Martin e Gainsbourg. O elenco no geral se encaixa muito bem na linha de von Trier.
No fim, não tem nada a ver com a promessa (nunca feita) de discutir a ninfomania em si. O vício é a desculpa para um tema polêmico e um título um tanto comercial. O que é visto na tela não traz grandes novidades além da abordagem crua: uma história forte sobre a condição humana, leis sociais e a solidão que ambos podem nos impor.
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