
A história de Susie Salmon (como o peixe) repete a tragédia de tantas outras meninas – e também meninos – que vemos proliferando em nossos noticiários e jornais nos últimos anos: estupros, assassinatos, agressões sem fim. Crianças são criadas cada vez mais dentro de casa e o tema “pedofilia” nunca foi tão discutido. A pergunta, afinal, é: O que dá tanto ibope para tais fatos? Mais do que isso, o que faz de uma história dessa natureza ser digna de virar um longa-metragem? Com certeza, e eu não vou ser hipócrita em negar, é a sua desgraça.
A grande verdade é que é a violência na morte da menina que chama a atenção. É exatamente fato de que alguém pode executar tal ato de horror e que algo assim seja crível no mesmo mundo em que vive uma família, como a Salmon, que nos parece tão perfeitamente inofensiva e amorosa nas cenas em que se desenvolvem suas relações. Sim, todos temos total ciência de que essas coisas acontecem de fato aqui, no nosso país, na nossa cidade, no nosso bairro, na nossa rua... no mesmo lugar onde pessoas como nós possuem um trabalho decente, uma família carinhosa, importantes objetivos de vida; tudo dentro da lei, sem machucar ninguém.
Peter Jackson escolheu a forma mais sutil de tratar do assunto e isso tem incomodado muitos espectadores. Talvez, porém, esse seja seu grande trunfo: focar naquilo que precisa ser dito muito mais do que naquilo que não precisa ser dito. Uma chocante cena de crua violência nos daria uma bela perspectiva do que um ser humano pode ser capaz. No entanto, a forma horrível como Susie morreu é apenas um lado de uma história que quer nos dizer muito mais.
Seguir em frente, essa é a moral da história. Quando algo acontece, coisas importantes se partem e a separação é inevitável; esse é o momento de vulnerabilidade em que todas as forças são testadas. Por causa de um único acontecimento, tudo se destrói: Susie se deixa engolir por uma obsessão de vingança e sua família se despedaça. O fato é que somos apenas humanos, muitas vezes impregnados de um apego que nem sempre é saudável. O deixar algo para trás pode ser uma das coisas mais difíceis de fazer.
O lado bom existe, como simboliza o Céu onírico (e, algumas vezes, até brega) de Susie e o amor recuperado entre Jack Salmon e Abigail Salmon. Então por que não nos concentrar nisso, a parte tão difícil e tocante da superação, em vez de querer ver detalhadamente as ações destrutivas do Sr. Harvey? Talvez essa fosse a pergunta que Peter Jackson gostaria que nos fizéssemos; talvez a leveza do filme fosse exatamente sua resposta pessoal a ela.
No final, alguns acabaram respondendo da pior forma possível. Vivemos tempos mórbidos, em que até o símbolo de “homem perfeito” é um morto-vivo que chupa sangue. A morte está em todo lugar, talvez a principal inspiração da década passada. Junto com ela, a sordidez. E é por isso que franquias como Jogos Mortais, hipérbole da violência no Entretenimento, continuam crescendo mais e mais.
Esse filme é inspirado num livro lindo que se chama "Uma Vida Interrompida".. Eu não vi o filme ainda, mas li o livro, que é de arrepiar. Um relato em 1ª pessoa, que chega a dar medo, de tão sensível!
ResponderExcluirTo doida pra ver esse filme...
Saudades!
Bjo
pois é!
ResponderExcluirEu li o livro! E fiquei chocada ao ver que o filme foi até que bem fiel à ele.... Tinha cenas e personagens que eu não lembrava de jeito nenhum!
Beijo! Saudades!