
Se considerarmos o mundo em que vivemos e as informações que chegam a nós de hora em hora durante um dia, é impossível crer na vida de Michael Oher senão como uma fábula. O menino negro que nasce e cresce no coração da miséria e decadência humana consegue sua entrada em uma escola particular. Observando-o afundar nesse mundo que ele desconhece, uma família branca decide abrigá-lo, ajudá-lo e, por fim, adotá-lo. Então, com o esforço de professores e treinadores, ele vira esse baita jogador de futebol americano de bom caráter e bem-sucedido.
Difícil acreditar que essa sucessão de coisas boas possa acontecer a alguém quando meninos morrem por dez reais nas favelas brasileiras. Mas aconteceu, em uma narrativa tão leve e tão direcionada para a felicidade, como se todas as famílias ricas estivessem prontas para doar seu sangue por alguém e meninos tão bons nascessem em toda má vizinhança, que só é possível engolir tudo isso quando sabemos que é baseado na vida de alguém real. Inacreditável, mas Michael Oher existe.
É interessante observar que o próprio roteirista da vida possa ter concebido um caminho tão “exato” para alguém. E só ele mesmo para ter tanto crédito para fazer um roteiro assim dar certo. Porque não é uma questão de observar um exemplo de bondade e guardar este sentimento até que um moleque venha roubar sua bolsa, mas de saber que coisas assim podem de fato acontecer no mundo real. Simples, leve, certo. Dessa forma, como os resistentes sonhadores da nossa sociedade gostam tanto de pensar.
Pode ser de um simplismo grande demais resumir o conceito de bondade em uma história quase insossa de tão certinha, que luta contra todas as estatísticas que conhecemos. No entanto, quem sabe seja isso que as pessoas precisem. Faz falta às vezes ver alguma bondade de graça, sem aqueles argumentos cheios de reviravoltas só para calar as perguntas que nosso mundo complexo de hoje não nos deixa ignorar. Quem sabe seja simplicidade que nos falte para chegar às melhores soluções dos problemas.
E se você ainda pensa que, no fundo, nunca conseguiria ser tão altruísta como Leigh Anne, não se preocupe. Esse não é um filme sobre o altruísmo de uma pessoa. Porém, é um filme sobre uma pessoa exemplar. Porque o bonito não é vê-la se doando pelo garotão da periferia e sim sentindo um sincero prazer em fazê-lo. Talvez disso possamos concluir que a verdadeira mensagem é que não é de sacrifícios que esse mundo precisa, mas de pessoas com um coração tão acolhedor quanto o dela.
- E parabéns pela bela atuação de Sandra Bullock! -
Nenhum comentário:
Postar um comentário