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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

The Counselor (O Conselheiro do Crime)

http://www.thecounselormovie.com/



Movido pela ambição, um advogado resolve juntar-se a um amigo em um esquema milionário com drogas. Quando os planos não acontecem como o previsto, todos os envolvidos são confrontados com sérias e violentas consequências.

Michael Fassbender, Penélope Cruz, Javier Barden, Cameron Diaz e Brad Pitt formam a fatia chamativa do elenco dessa produção de Ridley Scott. Sem grandes performances por parte de nenhum deles, o filme traz personagens que entram na trama de diferentes formas e que dividem as mesmas características: cinismo, humor negro e uma tendência a pensamentos filosóficos. É nos longos diálogos, todos encenados de dois em dois, que apreendemos toda a violência, o perigo e o sexo do mundo em que estão inseridos.

Sempre do ponto de vista do Counselor (Fassbender), vemos pela progressão dos acontecimentos o quanto as coisas podem ficar feias no lado B do mundo dos negócios. Há pouca ação e apenas uma cena que pode ser considerada picante, mas a bela fotografia é suficiente para criar a ambientação da história, desde o extremo luxo até o mais degradante buraco de um país de terceiro mundo.



“O Conselheiro do Crime” se diferencia de outras produções hollywoodianas pelo ritmo lento e longos diálogos. Há uma pretensão em criar grandes reflexões sobre escolhas e consequências que, se não for levada muito a sério, pode ser um ponto interessante da trama. Porém, sugiro não assistir com grandes expectativas por causa dos nomes envolvidos. É mais um filme para quem curte thrillers e quer fugir um pouco da fórmula americana clássica.

domingo, 10 de agosto de 2014

The Afflicted

http://www.afflictedpicturehouse.com/



Maggie (Leslie Easterbrook) é uma mãe de família tradicional, religiosa, casada com um bom homem chamado Hank (Kane Hodder) e mãe de quatro adolescentes: Carla (Sims Holland), Cathy (Michele Grey), Grace (Randi Jones) e Bill (Cody Allen). Quando ela pega seu marido fugindo no meio da noite para abandoná-la, a loucura acaba por dominá-la, tornando a casa da família em um cenário de puro terror psicológico e abusos físicos.

Apesar de baseado em fatos verídicos, é difícil relacionar o filme a qualquer realidade. Os acontecimentos representados até seguem o caso real e a adaptação não chega a ser terrível, porém, a execução enfraquece bastante a produção. Sem força dramática e um clima de tensão pouco convincente, o diretor Jason Stoddard não conseguiu um bom resultado em nenhum aspecto, ainda que a história tivesse potencial.

Não conheço o trabalho de Easterbrook, mas o que vi na tela me levou a considerar duas possibilidades: sua interpretação foi exagerada ou o personagem já era ruim no papel. Maggie, que poderia ter um fundo psicológico interessante e assustador, foi retratada como uma mulher que se transforma em um monstro psicótico de uma hora para outra, com rasos motivos para tal mudança. Não há qualquer tentativa de desenvolvê-la e tentar entende-la dentro de sua loucura, algo que seria importante uma vez que se trata de uma personagem baseada em uma pessoa de verdade. No filme, ela é apenas uma vilã má que maltrata os inocentes.

O pastor John (J. D. Hart) é o personagem mais proveitoso, pois tem o toque de dualidade que poderia estar em Maggie. Não da mesma forma, é claro. Porém, o pequeno esforço feito no pastor, que nem existe na história real, poderia ter sido feito nos outros personagens. Não teríamos uma trama profunda, mas elevaria o filme a um nível melhor.

Quem já ouviu falar do horrível caso de Theresa Knorr pode se interessar pelo título. Por isso, deixo aqui um aviso: a produção não chega nem perto do horror e do choque que se sente ao saber do que aconteceu na realidade. No entanto, não é um total desperdício de tempo para quem gosta desse gênero de filme.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Assassinos por Natureza (Natural Born Killers)

http://www.oliverstone.com/natural-born-killers/



Mickey (Woody Harrelson) e Mallory Knox (Juliette Lewis) são sexys, divertidos, imprevisíveis e mortais. Seu objetivo, se é que há um premeditado, é se libertar das correntes de seus passados cruéis e superar o mundo que até então os ignorou. Para isso, percorrem cidades americanas deixando atrás de si um rastro de sangue e cada vez mais fãs de seu brutal estilo de vida.

O diretor que nos leva ao alucinante universo dos dois personagens – e sem economizar na violência – é Oliver Stone. Seu tom é um tanto caricato, por um lado suavizando o que poderia ser um longa muito mais pesado e, por outro, deixando sua crítica à sociedade da época muito bem marcada. A manobra lembra o estilo de Quentin Tarantino em alguns aspectos, que por acaso é o autor do roteiro original da história.

A narrativa quase surreal é levada pela fotografia, edição e efeitos visuais. Às vezes é difícil dizer o que está de fato acontecendo e o que é figurativo. A linguagem distinta já começa em uma das primeiras cenas, com câmeras em diversos ângulos e uma edição toda recortada. Na minha opinião, o estilo deu bastante personalidade ao filme e enriqueceu o resultado final.



Uma trama satírica, crítica e sangrenta protagonizada por um casal de desajustados. Indicado para fãs de violência, serial killers e para quem não quer perder grandes referências do cinema.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Operação Invasão (Serbuan Maut/The Raid – Redemption)

http://www.sonyclassics.com/theraid/



Um mocinho com uma missão pessoal, um superior com sentimentos nobres, outro superior com motivações duvidosas, um vilão mau e inteligente e uma diversidade de dublês prontos para morrer de forma violenta e muito bem coreografada. Diretor e roteirista deste divertido longa, Gareth Evans partiu de um conceito básico: premissa simples, atuações exageradas e porradaria. O gênero é antigo, mas ainda mostra sua força ao atrair fãs de todo o mundo e que sentiam falta de lançamentos do tipo. E foi essa produção indonésia que os tirou da “seca” e reavivou um segmento adormecido.

A coisa é simples e essa é a sua beleza. Sem grandes pretensões, ao contrário do que costumam ser os filmes americanos, o filme se passa em uma mínima variedade de cenários e a maior parte de seus personagens escolhem facões em vez de armas de fogo. Não há um show de explosões ou gadgets avançados. O que tem é o ritmo frenético e um plot com uma quase profundidade, só o suficiente para prender a atenção e justificar, de certa forma, toda a ação.



A falta de inovações e a trama familiar (para quem assistiu “Dredd”) não atrapalham em nada. O objetivo não é refletir e nem sentir densas emoções. Este é um longa para quem quer ver lutas bem coreografadas e violência sem compromisso. Nesse sentido, a entrega é plena e você não vai achar muitas produções atuais melhores que essa.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Transcendence – A Revolução (Transcendence)

http://www.transcendencemovie.com/



Com Johnny Depp, Morgan Freeman e Paul Bettany no elenco, sendo este último o que mais se destacou em tela, “Transcendence – A Revolução” propõe uma discussão sobre tecnologia, a possibilidade de nos tornarmos imortais por meio dela e também os perigos que pode representar para as pessoas, cada vez mais conectadas à ela. Will Caster (Depp) é um famoso cientista voltado ao desenvolvimento de inteligência artificial que trabalha com sua esposa, Evelyn (Rebecca Hall), e com o amigo e colega Max Waters (Bettany) e, após sofrer um atentado, acaba falecendo e tem sua consciência carregada em um programa criado por ele mesmo.

Enquanto o tema é interessante e bem atual, o longa opta por uma abordagem mais fantasiosa, voltada para diversão. O enfoque é bem superficial e prioriza o drama e os conflitos, nenhum dos quais traz grandes novidades ou surpresas. A escolha enfraqueceu bastante o filme em relação às expectativas do que poderia ser.



Mais uma ficção científica que deve ser levada menos a sério do que pretende, “Transcendence – A Revolução” vale para quem procura por uma nova produção do gênero, já que é uma das poucas que foram lançadas ultimamente nos cinemas, e para quem estava com saudades de ver Depp sem as maquiagens exorbitantes exigidas pelos papeis de Tim Burton.

domingo, 22 de junho de 2014

Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive)

http://www.sonyclassics.com/onlyloversleftalive/



Há várias razões para ver em vampiros um tipo de criatura majestosa. Eles são poderosos e andam por aí com esse ar de mistério. Mas, é claro, não é só isso que compõe o charme irresistível. Tem também o perigo potencial; a fome por sangue que os faz seres obscuros, selvagens e muitas vezes fatais. Junte tudo isso à força, à rapidez e à eterna juventude e está pronto: uma bela e apelativa produção comercial. Sexo, beleza e sangue. É legal, é divertido e é o que os fãs gostam – eu, inclusive. Só que “Amantes Eternos” não tem nada disso.

Não é que Jim Jarmusch quis revolucionar totalmente a figura dessa criatura mística. Aliás, é exatamente o contrário. O filme traz poucas novidades para aqueles que já conhecem bem esse mundo alternativo. A direção de arte, junto com um trabalho competente de fotografia, criou uma ambientação bonita, mas não é nada que surpreenda. O objetivo do diretor foi desconstruir. E devo dizer que o resultado ficou bem interessante.

Verdade que o ritmo é lento e beira o tédio, o qual permeia a vida do casal Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton). A imortalidade, representada sem a beleza e a juventude padrão de Hollywood, enche os diálogos com referências históricas, porém, é o seu peso que conduz a trama. Os dois já viram e já aprenderam muito e ainda têm muito tempo pela frente. Adam é melancólico e se sente cansado. Eve continua apreciando calmamente os momentos que vive.

O longa tem vários pontos positivos, em especial o casal improvável formado por Hiddleston e Swinton. Mas o seu maior valor, ao meu ver, foi mostrar que cenas de sexo e nudez, sangue e violência e um alto nível de agressividade não são fundamentais para um bom filme de vampiro. Existe um outro lado que também rende boas histórias. Não, também não é o romance e nem as bobagens adolescentes. É o elemento humano, que os deixa mais complexos.

Adam e Eve me cativaram na tela. Até a aparição de Eva (Mia Wasikowska), a irritante irmã de Eve, é interessante. Os fãs dos seres imortais ganham muito conhecendo esses personagens, suas relações e intimidades. Por isso, fica a indicação. Só não espere um drama cheio de ação, com altos e baixos, e apelos baratos.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Malévola (Maleficent)

http://movies.disney.com/maleficent



Existe um vício em contos infantis que, felizmente, está sendo aos poucos consertado: o maniqueísmo. Em 1959, a Disney nos apresentou a história da doce Princesa Aurora e como termina por cair na maldição de uma terrível bruxa chamada Malévola. Simples assim, a narrativa vem de muito antes do estúdio decidir animá-la e possui diversas versões. Este ano, a Disney retornou à mesma história, desta vez com uma visão nova: a de que não há apenas vilões e heróis e, algumas vezes, é possível ser os dois na mesma linha de acontecimentos.

Malévola não é apenas má. Verdade, ela lançou uma maldição em uma inofensiva bebê que destinava-a a morrer antes do pôr-do-sol do dia em que completaria seus 16 anos (na animação, a fada Primavera a salva, substituindo a morte por um sono profundo capaz de ser quebrado pelo beijo de amor). A pergunta que não foi feita em 59 e que agora tem um filme inteiro para responde-la é: por quê? Além da essência maldosa e da aparente amargura, a bruxa não apresenta grandes razões para fazer o que faz. Aí entra a personagem desenvolvida pelo diretor Robert Stromberg e pela belíssima Angelina Jolie.

Com algumas adaptações, o longa entrega tudo o que os fãs da história e de contos infantis esperam: aventura, drama, uma pitadinha de romance e uma ótima dose de fantasia. Não é apenas todo o visual da *fada* Malévola, mas também o rico mundo em que vive: uma floresta mágica cheia de criaturas interessantes. O tom é infantil, bem adequado ao público, sem deixar de divertir os adultos que estejam como acompanhantes ou que decidam assistir ao filme.



Vale pela trama, pelos vistosos efeitos especiais e, para os mais velhos, pela nostalgia. A performance de Jolie é competente e sua incorporação da personagem não decepciona. Mesmo com alguns ajustes, a história respeita a versão original, que conquistou tantos fãs. Por tudo isso, a Disney está de parabéns pelo longa. É uma ótima aposta para quem tem filhos ou não!

sábado, 14 de junho de 2014

Ninfomaníaca – Vol. I e II (Nymph()maniac – Vol. I e II)

http://www.nymphomaniacthemovie.com/



Antes de perturbada, louca, estranha ou mesmo ninfomaníaca, Joe (Charlotte Gainsbourg) é uma desajustada. E se para muitos de nós é normal às vezes duvidar de nosso lugar na sociedade, para ela é um dilema que surge a cada passo que dá. Por causa disso, ela faz escolhas duvidosas, machuca alguns ao seu redor e termina achando que não é uma boa pessoa. Seligman (Stellan Skarsgård) é o homem que a acolhe em um momento particularmente difícil e a ajuda a descobrir se é de fato uma mulher má.

Esqueça tesão extremo, desejos incontroláveis e violação do corpo. A história de Joe tem, sim, relação direta com tudo isso, mas sua essência é outra. Quem esperou um pornô, se decepcionou. Quem esperou tudo de mais chocante e explícito por causa do nome Lars von Trier, também. O que os dois volumes contam é a trajetória de uma desajustada que aprendeu a lidar com o seu vazio por meio do sexo, com uma crítica à hipocrisia da sociedade. Nem por isso deixam de ser impactantes.



Com alguns eventos peculiares e ritmo ditado pelo estilo próprio do diretor, a trama conta a vida e as escolhas de uma mulher que por muitas vezes pode nos chocar, inspirar pena ou nos deixar com raiva. Para alguns, talvez cause admiração. Joe é uma boa personagem, com personalidade e problemas particulares, e bem interpretada por Stacy Martin e Gainsbourg. O elenco no geral se encaixa muito bem na linha de von Trier.

No fim, não tem nada a ver com a promessa (nunca feita) de discutir a ninfomania em si. O vício é a desculpa para um tema polêmico e um título um tanto comercial. O que é visto na tela não traz grandes novidades além da abordagem crua: uma história forte sobre a condição humana, leis sociais e a solidão que ambos podem nos impor.

terça-feira, 27 de maio de 2014

X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (X-Men: Days of Future Past)

http://www.x-menfilmes.com.br/



É num cenário improvável, nas ruínas de um templo isolado, que se juntam os últimos mutantes do mundo em torno de uma última esperança de sobrevivência: a habilidade especial de Kitty Pride de enviar a consciência de alguém ao passado, em seu corpo mais jovem, e desta forma mudar a história. Professor Xavier e Magneto, os grandes líderes desse grupo exterminado, não veem outra alternativa além de se juntar para orientar Wolverine, único capaz de fazer a longa viagem ao passado distante. Sua missão será mudar o cenário que levou à criação dos invencíveis Sentinelas assassinos.

Com os rostos já conhecidos da franquia, como Hugh Jackman (Wolverine), Ellen Page (Kitty Pride), Halle Berry (Storm), Shawn Ashmore (Iceman), Patrick Stewart (Charles Xavier – mais velho), Ian McKellen (Magneto – mais velho), James McAvoy (Charles Xavier – mais novo), Michael Fassbender (Magneto – mais novo), Jennifer Lawrence (Mística – mais nova) e Nicholas Hoult (Fera – mais novo), e novidades como Evan Peters (Peter) e Peter Dinklage (Dr. Bolivar Trask), o último filme dos mutantes traz instigantes imagens dos os amados personagens em uma atmosfera mais obscura. Alguns dos favoritos acabam de fora ou aparecem por não mais que alguns segundos, mas os que ficam não deixam a desejar, mostrando que basta criatividade, bom roteiro, coreografia e efeitos especiais para criar cenas de lutas que levantam qualquer público.

Além da ação, Bryan Singer não economizou no tom dramático e nas piadas, entregando assim um longa capaz de prender a atenção do começo ao fim. O ritmo da trama é bom e acerta no equilíbrio entre momentos sérios e engraçados, sendo recomendável para todos os tipos de público.



A tensão mutantes x humanos é velha, mas mostra que ainda rende muito pano para a manga. Quem assiste esperando por ação mutante também não se decepciona. Por isso, para um programa divertido nos cinemas, não tem erro: “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” com certeza vale a pena!

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Across the Universe

http://www.sonypictures.com/movies/acrosstheuniverse/



Jude é um garoto comum de Liverpool que deposita todos seus sonhos e anseios em um encontro com o pai, que mora na América. Porém, quem o acolhe na nova terra é Max Carrigan que, além de guia-lo por suas aventuras universitárias, lhe apresenta a sua irmã, a perfeita Lucy. Juntos, os três cantam e vivem a alma agitada dos anos 60, desde o movimento da contracultura até os violentos protestos contra a Guerra do Vietnã.

O romance conturbado de Jude e Lucy se desenrola em um musical, usando muitos sucessos interpretados pela banda The Beatles para levar o ritmo da história, com doses equilibradas de humor e seriedade que de fato coloriram essa década. O longa não se aprofunda muito em nenhum dos temas que aborda, mantendo a essência teatral que pode agradar ou desagradar, dependendo do gosto. Muitas vezes, se utiliza de interpretações alternativas das canções, convenientes para a trama, que não acerta 100% todas as vezes, mas não chega a prejudicar.

Com atuações satisfatórias e boas vozes, o elenco não decepciona. O destaque fica para Dana Fuchs (Sadie) e Martin Luther McCoy (Jojo), que brilham ao interpretarem suas músicas. A sempre linda Evan Rachel Wood (Lucy) e Jim Sturgess (Jude) convencem de sua química em cena, mas não chegam a ser um casal carismático. Joe Anderson (Max) e T. V. Carpio (Prudence), por outro lado, são excelentes coadjuvantes, ambos personagens muito mais interessantes.

O filme é uma ótima sugestão para um programa em família e casal, especialmente para os fãs do grupo The Beatles.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club)

http://www.focusfeatures.com/dallas_buyers_club



Qual é a força de um preconceito? Um único fato é capaz de apagar tudo o que você é para te transformar um ser preconcebido gravado profundamente no senso comum. Você não é mais aquele vizinho, amigo ou namorado – você é aquilo que a sociedade disse que você é, independente de toda a sua história. De repente, você é algo desprezível e imoral, que merece ser isolado e ignorado. Tudo isso enquanto encara a morte certa de frente.

Ao conhecermos Ron Woodroof, não entramos apenas na rotina desse caubói mulherengo e homofóbico, típico macho alfa de Dallas dos anos 80, mas também em todo o seu estilo de vida turbulento. E quando o destino lhe prega uma peça, ele perde tudo, se vê obrigado a mudar e acaba entrando em uma difícil briga da qual não desiste até o fim.

O protagonista Matthew McConaughey e o coadjuvante Jared Leto, que vive Rayon, não desperdiçam um segundo de tela. Seus personagens sofrem com a AIDS, terrível doença que assombrou a humanidade naquela década, condenando-os à morte em uma época em que médicos e cientistas ainda tentavam entender este mal. Em um drama que expõe essa difícil situação, tanto McConaughey quanto Leto levaram seus personagens até sua camada mais profunda e, merecidamente, ganharam indicações ao Oscar 2014.



Não é um drama de superação. É a história de um homem que viveu no terrível cenário da propagação da AIDS nos anos 80 e teve que sentir a força de uma sociedade ignorante e assustada – parcela de que ele mesmo era membro integrante. Com todas as chances contra ele, aprendeu a sobreviver. E acabou mergulhando nesse mundo B, antes tão distante e tão demonizado, só por causa de um único fato, um evento, um descuido. Esse é o drama de Ron Woodroof.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Ela (Her)

- Pode conter spoilers –

http://www.herthemovie.com/#/home



Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) é um homem comum, com uma vida comum e problemas comuns. Divorciado, portador do mal chamado solidão. E não tem nenhuma grande ambição; contenta-se em fazer o horário comercial no escritório e aproveitar sozinho o apartamento com vista privilegiada. Mas existe algo de extraordinário nesse ‘escritor’ de cartas à mão e me refiro ao mundo em que vive. De repente, mergulhamos não apenas em sua vida, mas nesse ponto do futuro em que tudo é graciosamente estético e tecnologicamente avançado. Theodore é um simples cidadão deste lugar estranho, o qual um belo dia resolve balançar sua vida oferecendo, por meio de um anúncio publicitário, um produto chamado Sistema Operacional (SO).

Samantha (Scarlett Johansson), por outro lado, é essa mulher inteligente, engraçada e absolutamente charmosa que é tudo menos comum. Ela se envolve com esse homem e desenvolve uma paixão sincera. Ao mesmo tempo, descobre quem tem muito a aprender sobre a vida e, é claro, o fato de ser um computador. Na verdade, uma SO.

Não é uma história sobre a tecnologia, a sociedade ou os problemas de um homem. O que ela nos conta é uma fábula melancólica sobre relacionamento e amor. Com Joaquin Phoenix, sempre tirando o máximo de seus papeis, e Scarlett Johansson, mostrando que não precisa do rosto bonito para conquistar um homem e também o espectador, descobrimos um nível diferente do que é se relacionar. Amy Adams, outra que não decepciona, faz a vizinha e amiga, no fundo, o elo humano de Theodore.

Este filme é um acerto de Spike Jonze. A trama sensível, ritmo sereno, fotografia delicada, elenco competente – um conjunto bem harmonizado. Enquanto alguns de seus concorrentes ao Oscar optaram pelo tom mais pesado e, às vezes, frenético, ‘Ela’ não hesitou em ser sutil. A indicação a melhor filme mostra que ainda há espaço para produções sem condução forte e de difícil digestão.

Ainda que haja grandes apostas na disputa, ‘Ela’ não deve ser ignorado. Provavelmente não levará o prêmio. Independente disso, o conto de Theodore e Samantha encantará qualquer um que decidir conhecer sua história.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream)

- Pode conter spoilers –

http://bit.ly/KhDMoU

Uma coisa fundamental que coloca Harry (Jared Leto), Tyrone (Marlon Wayans), Marion (Jennifer Connelly), Sarah (Ellen Burstyn) e, no fundo, muitos de nós no mesmo barco é a vontade de realizar um sonho, seja ele ter sucesso na vida, dinheiro, uma família ou simplesmente participar de um show de televisão. E se lá dentro, no mundo que só você vê, tudo é muito lindo, aqui fora, onde todos travamos nossas batalhas individuais, tudo pode parecer feio. Na verdade, horrível.

Com ritmo melancólico, mergulhado em tom esverdeado, o diretor Darren Aronofsky nos conta um pouco da vida desses quatro personagens medíocres e a resposta única aos seus anseios: as drogas. Elas são o passe mágico para a felicidade eterna tanto quanto o constante lembrete de que a realidade nunca será tão fácil ou perfeita como os sonhos parecem. E de forma quase frenética vamos assistindo à rápida decadência em que vão afundando um a um até que não sobra mais nada além delas. Sim, as drogas.

A mensagem cai, sim, no velho e bom aviso sobre o perigo das drogas. Mas é também sobre o poder destrutivo da busca desesperada por um sonho – ou seria por uma saída? Fica o espaço para a reflexão e a sensação de falta de fôlego causada pelas excelentes atuações.